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quarta-feira, 13 de junho de 2012

O namoro de Júlia



A pracinha do bairro sempre foi o ‘point’ dos moradores da comunidade desde os tempos da ditadura, quando Garrastazú Médice pintou por lá para cortar com tesoura a fita de inauguração do chafariz. Muitas crianças cresceram naqueles parquinhos, descendo no escorrega, girando o carrossel, comendo pipoca e algodão doce. Muitos hippies já curtiram um ócio nos bancos daquela praça. Muitos pombos já deixaram suas lembranças excrementícias nos ombros honrosos de Marechal Deodoro da Fonseca, esculpida por um bustuário qualquer na entrada do coreto. Coreto este, palco de muitas, muitas, quase incontáveis manifestações culturais da cidade. Fanfarras, charangas, artistas da terra, atores teatrais, políticos corruptos (como se estas palavras não fossem inseparáveis), ventríloquos, mágicos, corretores de imóveis....todas estas figuras mitológicas, folclóricas e urbanas, já fizeram uso do espaço público sempre tão prestigiado e conservado até o dia de hoje.
Na praça também, muitas das crianças que cresceram escorregando, pulando, balançando e caindo de bicicleta, se tornaram jovens adultos e arranjaram namoros por ali. Namoros que viravam casamentos, que geravam filhos, que voltavam a dar a vida colorida e despreocupada que é a vida de uma praça.  Muito bonito.
Se pra muita gente a pracinha era recoberta por uma aura romanesca, pra Júlia nada nunca mudava. Tudo sempre continuava na mesma. Fizera vinte e cinco anos dia desses e os passeios nas calçadas jardinadas só serviam pra tagarelar com as amigas igualmente solteiras sobre ‘boy bands’, crepúsculos e pra mascar chiclete. Júlia estava meio cansada dessa vida. Não que fosse feia, pelo contrário, não era, mas, sabe, nunca conseguia alguém. Talvez fosse a educação dos pais. Talvez fosse a falta de educação de seus modos. Ou ainda talvez fosse o horroroso hábito de só andar em bando, irmanada a suas amigas patéticas e escalafobéticas. Meninas bobas, que pareciam viver no mundo de Peter pan. Aliás, aliado a seus maus modos, Júlia era muito ranheta, não se contentava com nada. Qualquer partido não serve. Arnaldo não serve porque chama Arnaldo, Bernardo não serve porque lembra São Bernardo do Campo, Camilo não serve porque tem uma pinta no pescoço, Damião é até bem apessoado, mas é pobre pra chuchu, com Roberto até chegou a começar um namoro, mas terminou antes do filme acabar, no primeiro encontro, por causa de uma pipoca sem sal, com sal, sabe-se lá. Ricardo era rico, "bon mot"  e inteligente. Descobriu-se logo no primeiro mês que também era afeminado. Nesse ponto fecho com Júlia. Assim não dá.
E vivendo assim, num misto de falta de sorte, exigências exacerbadas, falta de jeito pra lidar com homens, maus hábitos sociais, ingredientes de uma poção mágica esdrúxula que enfeitiçava suas pretensões amorosas, Júlia estava disposta a mudar de vida. Como se uma força motriz lhe empurrasse avante, estava determinada desta vez em enveredar-se pelas vias da paixão, do mundo a dois, do apego sentimental. Afinal, vinte e cinco primaveras já se passaram e...não é mole não. Esse lance de solidão é coisa de ermitão.
Começou a freqüentar outras praças. Cinemas, festas, rodeios e comícios desta vez sem a patota, uma vez aqui outra acolá chamava Sofia pra lhe fazer companhia. Parou com os pitis histéricos, aceitou mais as coisas, as pessoas. Cuidou mais de si. Agora andava perfumada, sempre produzida. Na faculdade, todos notavam a diferença. Júlia era outra. Com seus cabelos castanhos intensos virou sinônimo de beleza com sua silhueta escultural e escomunal. Se antes não era primeira escolha de ninguém, agora uma chuvarada de pretendentes exóticos viviam tentando a sorte com a mina. Lembrando que só o Senhor conseguiu transformar água em vinho, Júlia, ainda com resquícios de sua velha forma, estava aguardando o melhor bote. Ou, ainda mais seletiva, queria mesmo é fazer sua escolha.
Um dia no shopping, tomava um milk-shake às três da tarde com Sofia. Blábláblás a parte, em dado momento Júlia enxergou ao longe, láááááá no finzinho da praça de alimentação, um bonitão. Iniciou-se a paqueração. Olhares fumegantes cortando de lá, cortando de cá. Como numa briga de foices pertinaz, os olhares cruzavam o espaço num duelo entre dois pretensos amantes. Júlia entre um olhar e outro cochichava com Sofia sobre os dotes físicos do rapaz, que estava num grupinho de amigos, tomando cerveja, algo assim. Sem suspeitar do movimento, Júlia é rendida. Surpreendida por um garçom, recebe um papelzinho com um convite, telefone. A moça quase virou leite condensado e besuntou tudo de tão derretida. O cara, talvez se sentindo um desses mamíferos do national geografic que se requebram todo pra conseguir seduzir a fêmea, recebeu um sorriso confirmativo, um balançar de cabeça encabulado por parte de Júlia, que, agora, pareceu ter encontrado seu par almejado. Um lampejo lembrou-a do tal amor a primeira vista, este que todo mundo alega existir e coisa e tal. O garçom recebeu nova missão. Ganhou das mãos de Júlia outro papel destinado ao moço-sem-nome. Minutos depois o emissário cumpriu sua tarefa e passou às mãos do sujeito a informação postada por Júlia. Era o número de telefone da gata. O rapaz-desconhecido-da-praça-de-alimentação sem perder um segundo sequer, meteu a mão direita no bolso da calça e sacou um celular. Com a mesma mão digitou os números e imediatamente ligou pra Júlia. Tempos modernos. Júlia que de longe acompanhava tudo, não aguardou ao menos a campainha do seu aparelho telefônico reclamar e já foi atendendo com o coração na boca, boca seca e ossos trêmulos. Uma sensação diferente de todas as outras. Ao ouvir a voz do galanteador, não respondeu logo. Engoliu primeiro duas ou três salivações pra não correr o risco de engasgar. Dali pra frente...bom, dali pra frente já entramos na intimidade do casal e cabe a cada um de nós imaginar o resto. O importante mesmo é saber que marcaram um encontro. Findada a conversa Júlia achou por bem não ficar por ali dando sopa. Não passou pela cabeça nem um segundo sequer ir lá ao encontro do rapaz...ele estava com os amigos, um burburinho de gente não ia ser nem um pouco romântico encontrá-lo desse jeito. Por essa razão imaginou que astutamente o Marcelo (estava no papel, agora pude ler), não foi ao seu encontro. Ia dar bandeira aos amigos. Por isso achou demais o convite. Pegou Sofia, jogou no lixo o copo com restinho de milk-shake e foram embora. As duas. Pro bairro. Pra casa.
Naquela noite sonhou com Marcelo. Coisa estranha, mas sonhou. Nunca havia lhe acontecido isso. Sonhar com alguém em especial. De manhã, pegou por três vezes o telefone pra ligar pra ele. Hesitou.  A velha Júlia jamais faria isso. A nova Júlia ao menos cogitava a possibilidade. A abstinência, porém foi suspensa, pois Marcelo por si só tomou a iniciativa. Ligou, só que no finzinho da tarde. Não importa. Conversaram por mais de meia hora. Reafirmaram o horário e o local do encontro.
Na noite seguinte, Júlia chegou primeiro. Quinze minutos antes. A ansiedade um pouco moderada. O restaurante ficava no bairro próximo ao seu. O garoto vinha de mais longe. À tarde, pesquisou em uma rede social sobre o menino. Não encontrou nada. Não sabia o seu sobrenome, o que dificultou a pesquisa. Mirava o relógio a cada trinta segundos. Sem mais delongas, Marcelo apareceu na porta do estabelecimento, a essa altura razoavelmente movimentado. Júlia estava olhando de lado e ao virar-se percebeu a entrada da sua companhia. Quando viu Marcelo, pela primeira vez de perto, sentiu um frio subir pela espinha, um susto nascente nas plantas dos pés, um embrulho embaraçador no estômago, um enjôo de perplexidade, uma tontura estonteante. Não imaginava que ele fosse tão bonito. Não imaginava que ele fosse maneta. O cara não tinha a mão esquerda. Rapaz, nem em seus piores pesadelos imaginou que Marcelo fosse maneta. Um flash back mental de poucos segundos realmente confirmou que naquela tarde no shopping a distância não revelou este detalhe. Ficou sem chão. O rapaz se aproximava com um largo sorriso. Bem trajado, com uma dessas camisas sport fino com um emblema de um réptil boquiaberto, calças semi bag da moda e perfume internacional.  Júlia segurou com as unhas a borda da mesa. Não sabia o que pensar, o que falar...qual a saída? Ele de fato era um príncipe encantado, mas não tinha a mão esquerda. Um choque em suas pretensões. Um nocaute no seu coração recém convertido. Ainda sem perceber o atordoado semblante da pequena, Marcelo chegou cumprimentando estendendo a mão, a boa, claro, e se agachando para um beijo, no que ouviu uma explosão de dinamite:
- Por que não me contou? – Perguntou Júlia, olhando pro defeito.
- Contei o quê? Ah sim, você diz sobre minha deficiência? Que diferença faz?
- Você não tinha esse direito de me esconder isso. Devia ter me avisado. – Retrucou, cuspindo marimbondos.
- Ei! Calma garota! Eu nem te conheço, aliás, esse encontro era pra isso, não era? Pra gente se conhecer?
- Não, não era pra isso seu mané! Eu pensei que... pensei que você era... você não passa de um aleijado digno de pena.
- Pode ser, mas se você acaba de descobrir o meu defeito, acabo de descobrir o seu.

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Lição 1:

Quais os olhos que te guiam? Os carnais ou os espirituais?
Deus conhece o interior, não a casca!

"Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade; E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade..." - Colossenses 2:9-10

Lição 2:

Lugar de procurar relacionamento é na presença de Deus!

"Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração." Salmos 37:4

"Casa e riquezas são herdadas dos pais; mas a mulher prudente vem do Senhor. " -Provérbios 19:14

Por Bruno Ramos

4 comentários:

  1. As vezes... acho que me falta uma...silhueta escultural e escomunal.kkkkkkk
    Ou então deixar um pouco a PATOTA de sobrinhos que insistem em me acompanhar.Assim, nem os MANETAS me querem. kkkk
    Brincadeiras à parte...

    GRANDE LIÇÃO... ÀQUELE QUE NÃO TEM DEFEITO! ATIRE A PRIMEIRA PEDRA.

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    Respostas
    1. kkkkkkkkk!!!!!!!! modesta você né!!! E uma excelente lição vc notou de fato: atire a primeira pedra quem não tem defeito!!! :)

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  2. Muita boa a estória...e faz a gente repensar sobre nossas exigencias pra que está ao nosso lado!
    Suely
    http://sbertoncini.zip.net

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  3. obrigado Suely...vc sempre receptiva aos meus textos!!!!!!!

    E é verdade...quando nos colocamos a exigir demais sobre nossos companheiros, pessoas q nos amam e nos querem bem, nada mais estamos fazendo do q expondo nossos proprios defeitos

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Felicidade se faz com música

Olá a todos!

Enfim, resolvi de vez expor minhas escritas. Sempre quis escrever, apresentar um pouco as idéias que estão sempre enclausuradas na minha mente, sem ter como escapar. Espero que gostem de tudo o que eu carinhosamente estou apresentando ai. E, se por um caso, precisares de uma banda pra tocar no seu casamento, na sua festa, no seu evento...estamos ai, fácil falar comigo. Abraços.

Abraço a todos.

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