As eleições municipais são acontecimentos que
revelam a essência das situações mais
inusitadas e hilárias que os seres humanos são capazes de produzir. Só durante
o pleito eleitoreiro podemos ver aquelas pessoas esquisitas (que geralmente se
acham o máximo), desfrutando, muitas vezes, seus quinze segundos de fama. É
gozado assistirmos aquele bando de candidatos desorientados defronte a câmera
no estúdio, com os olhos pregados em um ponto no infinito, lendo aquelas frases
programadas, de conteúdo duvidoso, promessas esdrúxulas nem um pouco sanas. Vai
desde o Seu Astrogildo da Padaria até Dona Zumira da Associação de Moradores do
Bairro do Buraco. Todos querem dar sua “palhinha” no programa de tv, bem como
nos demais meios de veiculação. E o pior é que a grande maioria acredita
piamente que irá ganhar.
Dia desses, no horário eleitoral gratuito, entrou o
Jamelão:
- Se eu for eleito, só se eu for eleito, poderemos ter educação para todos, para o rico, para o pobre, para o branco, para o preto, para a criança de zero ano a um velho de oitenta e cinco. – Essa foi a parte mais importante do discurso que ele continuou – Meu objetivo é que todo analfabeto acima de oitenta e cinco anos saiba ler aqui no nosso município...
Depois, veio o Tetê:
- Meu nome é Teófilo Ferreira Araújo, mais conhecido
como Tetê, candidato a vereador com o número 945671. Venho como candidato
representando a comunidade sofrida do bairro da Penha e vou lutar para
legalizar a pena de morte no Brasil, mas principalmente no nosso município.
Também vou lutar para que todos tenham condição de comprar carros populares...
Dois candidatos sem graça se pronunciaram em seguida foi a vez da Professora Áida:
- Olá!!!Oi, oi!!! Eu sou a professora Áida. Meu
número você já sabe. Meu trabalho você já conhece. Minha meta você já viu. No
dia das eleições conto com você - Depois
sorriu escandalosamente expondo sua gengiva de sete centímetros, acompanhada de
seus óculos “fundo de garrafa” e com os seus cabelos crespos, tipo bucha,
despenteados.
É um batalhão deles. Não dá pra dar espaço pra todos eles aqui na minha crônica, que não é gratuita, muito menos propaganda eleitoral. Mas, para rememorarmos alguns desses importantes colaboradores da democracia, vou citar alguns nomes que com certeza, ao menos um, você já deve ter ouvido falar: temos o Chiquinho, o Chupeta, o Preguinho, Dona Zita, Etevaldo, Valmir do Posto, Tião da Revendedora de Gás, Rogéllio cabeleireiro, Linda (cujo slogan é: por uma linda cidade), Hetevaldo (esse é outro), José-mata-porco, Zé da Bocha, Tancredo do cursinho preparatório para o concurso da caixa econômica federal, Pastor Deolindo, Irmã Tereza, Cláudio Cláudius, Dr Felipe Mathias, Lucrecia, Mariquita da Associação de Moradores do Bairro Panamá e por aí vai.
O que percebemos é que um indivíduo quando tem um bom relacionamento social, sente-se motivado para testar sua popularidade. Fica muito bravo quando a turma não vota nele. Mas se esquece que o amigo sempre tem um irmão, um tio, um cunhado, um sogro, um primo, que está na disputa direta na corrida eleitoral.
Mas é isso. A miscelânea faz parte da festa da democracia. Todos querem contribuir com o seu potencial para o bem comum. Na noite passada, me dei conta da abrangência magnífica das eleições políticas. Pouco antes de chegar em casa, tive um problema no trânsito. Um motorista infrator entrou com seu Santana na minha pista de rolamento, me obrigando a frear bruscamente e a fazer uma manobra muito arriscada para não colidir contra o carro dele. Ele também parou. Não parecia preocupado. No calor do momento gritei muito irritado:
- Vaaaaaaaaaaaaiii barbeiro!!!!!!
O sujeito no outro carro
abaixou o vidro e com o peito estufado também bradou:
- É isso aí companheiro!!!!!Estamos juntos nessa luta!!!!!!Conto com seu voto!!!
- É isso aí companheiro!!!!!Estamos juntos nessa luta!!!!!!Conto com seu voto!!!
Dito isto, manobrou o carro e passou por mim
buzinando, quando pude ler na traseira do seu Santana a seguinte mensagem:
“Toninho Barbeiro nº 4234577 tirando a barba o cabelo e o bigode da gente!”
FIM