Pastor Adamastor era um homem muito boa gente. A igreja, tradicional e centenária na cidade, era o destino de grande parte dos evangélicos do lugar, por ser a maior igreja "crente" da pacata cidadezinha. Todos ou quase todos os membros da igreja admiravam o amável Pastor Adamastor. Não se ouvia falar mal daquele homem já a oito anos na presidência da simpática congregação. Nos últimos anos, a igreja recebera muitos novos membros, muitas almas se batizando e a cidadezinha estava mesmo se convertendo, aceitando Jesus como Salvador. Muitos creditando essa revolução como o fruto do trabalho do obstinado pastor Adamastor, homem incansável em pregar o evangelho.
Seus sermões, recheados de autoridade e convicção sempre falavam sobre o amor e exaltavam a honrosa missão de servir a Cristo. Ele sempre falava do amor de Jesus, o desprendimento das coisas materiais e o apreço pelas coisas do céu. Ele costuma dizer que seu versículo favorito era Colossenses capitulo três versículo dois: "pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra." Ele pregava sobre enfermidade, arranjava um jeitinho de citar o versículo, aconselhava algum irmãozinho no gabinete e lá estava ele pregando aquele versículo, no futebol, lá ia ele com seu lema de bolso...o jeito simples e amoroso de levar a vida daquele pastor conquistava cada vez mais aquele povo.
Como toda igreja tradicional que se preze, a igreja tinha seu "conselho deliberativo". Uma comissão formada pelos irmãos obreiros da igreja que decidiam sobre toda a "papelada". Tinha o pastor Gerôncio vice-presidente, irmão Cláudio tesoureiro, irmã Veruska vice-tesoureira, irmã Jacobina, secretária, pastor Pedro Henrique pastor de música, além dos obreiros mais anciãos da igreja, Seu Pitágoras, Seu Jorgino e Dona Efigênia esposa de Seu Jorgino, que sempre preparava a ceia do primeiro domingo do mês.
Mas sabe, pastor Adamastor não ligava muito pra isso não. Ele ficava sempre agitado quando começava mais uma reunião pra decidir sobre o bebedouro da cantina, o ventilador das salinhas da escola bíblica dominical, das apostilas dos juniores...ficava ele lá ouvindo tudo, com os pés agitados balançando pra cima e pra baixo, olhando desavergonhadamente para o relógio doido pra tudo acabar logo.
O que o pastor Adamastor gostava mesmo era de passar na sala das professoras da EBD, pegar as crianças no colo e fazer uma oração com elas, gostava de participar dos cultos de oração todas as terças-feira dirigidos pela irmã Norma, gostava de chamar o pastor Pedro Henrique para fazer um louvor com os jovens nos sábados a noite, gostava de marcar visitas na casa dos novos convertidos com o irmão Pitágoras nos dias de sexta-feira.
Um belo domingo de agosto a igreja teve que se reunir em assembléia para decidir sobre a partida do pastor Adamastor. A igreja deveria então respeitar o rodízio dos pastores recomendado pela convenção nacional a qual estava afiliada. Foi um dia de muita tristeza naquela igreja. Aquele pastor tão amado, precursor de uma grande revolução no seio daquela igreja agora iria partir. Um grande pesar e comoção entre os irmãos. Mas tinha que ser assim. Agora a igreja seguiria sem o pastor querido. Pastor Gerôncio assumiria interinamente. Houve um discurso. Houve uma despedida. Pastor Adamastor então já não era mais o presidente da igreja. Foi embora pastorear um igrejão de São Paulo.
Então a igreja foi seguindo o seu curso natural, sob o pastoreio de Gerôncio. Tudo ia bem a não ser o sentimento de perda de um grande líder. Três meses depois da ida de Adamastor, irmã Norma faleceu. Fizeram as cerimônias fúnebres. Enterraram a irmã num dia de terça-feira. Poucos familiares, pouquíssimos irmãos da igreja. Junto ao túmulo de irmã Norma também fora sepultado os cultos de oração de terça-feira, que só haviam sobrevivido ao tempo pela dedicação daquela irmã.
Para afastar o clima "borocochô" do povo desde a partida do seu antecessor, no domingo seguinte o pastor Gerôncio decidiu tomar uma atitude ousada: convidou um artista gospel desses bem famosos e caros para cantar no culto da noite. O homem veio lá do Rio de Janeiro para aquela cidadezinha pacata, algo revolucionário na região. Primeiro chegou o ônibus carregado de músicos, cheio de equipamentos modernos, instrumentos e parafernalhas. O cantor chegou na hora do culto, até um pouco atrasado porque o vôo atrasou do aeroporto Tom Jobim devido a um contratempo na autorização de decolagem do jatinho particular do famoso cantor disco de platina.
Foi um alvoroço na igreja! Veio caravana das cidades vizinhas, ônibus entupindo a rua central da cidade, o prefeito foi no culto, a câmara de vereadores inteirinha, os três donos de supermercados, o juiz, o delegado e o médico do posto de saúde. Todas as personalidades se postaram na porta do camarim para uma foto para o jornal da cidade. Iria acontecer uma tarde de autógrafos com venda de cds, mas o atraso na viagem inviabilizou o negócio.
O espetáculo foi de casa cheia. Muita euforia durante a apresentação do cantor. Pela primeira vez em muitos anos não houve apelo no culto de domingo a noite. A festa foi um sucesso de público. Muita gente saiu dali satisfeita montada em seus ônibus de excursão. Menos o conselho deliberativo da igreja, e uma boa parte da membresia. Os irmãos do conselho se escandalizaram com essa atitude unilateral do pastor Gerôncio, que não consultou a igreja e desfalcou o caixa da igreja em mais de oitenta mil reais para arcar com os custos da super-produção. Como se não bastasse, quebraram as portas dos banheiros, colaram chicletes nos bancos, deixaram o pátio com guimbas de cigarro, estragaram o bebedouro novinho comprado na assembléia anterior...foi um desastre.
Daquele dia em diante, começou o racha na igreja. Parte da igreja queria mais famosos no pedaço, outra parte estava insatisfeita com tanta ousadia junto. Descobriram que irmão Cláudio tesoureiro faturou dez mil com a jogada do artista, por isso comprou um carro novo. Abriu uma boate na cidade, e os jovens da igreja começaram a frequentar as festas, já que não acontecia mais os louvores de sábado a noite com pastor Pedro Henrique, que aliás, foi pego em adultério com irmã Berenice professora da EBD. Seu Pitágoras também morreu, e o filho dele recém convertido na época do pastor Adamastor, voltou ao vício do álcool e num inesperado dia atirou na sua esposa na porta da igreja, numa noite de culto, cheio de membros chegando para mais uma reunião. O número de batismos continuou caindo até chegar a zero. A frequência nos cultos também caiu. Se passado um ano, nada do legado deixado por pastor Adamastor estava de pé. A igreja estava em frangalhos.
Foi ai então que numa medida desesperada, alguns líderes daquela igreja resolveram telefonar para o pastor Adamastor e solicitar desesperadamente a visita dele na cidade. Só poderia ser isso: depois da partida do pastor Adamastor tudo passou a dar errado. O amável Adamastor ao receber as notícias trágicas de sua igreja de oito anos, pega suas malas e parte para ver de perto a situação. Chegando na cidade num sábado de manhã Adamastor entra na sala de reunião da igreja e defronte ao conselho deliberativo, ouve a narrativa de pastor Gerôncio sobre os infortúnios do último ano: discussões, contendas, esvaziamento da igreja, falta de amor, secularismo, desgraças e pecados. Naquela sala fria e tensa, o conselho ouvia as explicações de pastor Gerôncio já imaginando a condenação vindoura por parte do experiente e respeitado pastor. Estavam aguardando a repreensão ao colega vinda de Adamastor. Quando Gerôncio termina sua fala, pastor Adamastor então retruca:
- Pastor Gerôncio, chama pra mim a irmã Norma por favor.
Daquele dia em diante, começou o racha na igreja. Parte da igreja queria mais famosos no pedaço, outra parte estava insatisfeita com tanta ousadia junto. Descobriram que irmão Cláudio tesoureiro faturou dez mil com a jogada do artista, por isso comprou um carro novo. Abriu uma boate na cidade, e os jovens da igreja começaram a frequentar as festas, já que não acontecia mais os louvores de sábado a noite com pastor Pedro Henrique, que aliás, foi pego em adultério com irmã Berenice professora da EBD. Seu Pitágoras também morreu, e o filho dele recém convertido na época do pastor Adamastor, voltou ao vício do álcool e num inesperado dia atirou na sua esposa na porta da igreja, numa noite de culto, cheio de membros chegando para mais uma reunião. O número de batismos continuou caindo até chegar a zero. A frequência nos cultos também caiu. Se passado um ano, nada do legado deixado por pastor Adamastor estava de pé. A igreja estava em frangalhos.
Foi ai então que numa medida desesperada, alguns líderes daquela igreja resolveram telefonar para o pastor Adamastor e solicitar desesperadamente a visita dele na cidade. Só poderia ser isso: depois da partida do pastor Adamastor tudo passou a dar errado. O amável Adamastor ao receber as notícias trágicas de sua igreja de oito anos, pega suas malas e parte para ver de perto a situação. Chegando na cidade num sábado de manhã Adamastor entra na sala de reunião da igreja e defronte ao conselho deliberativo, ouve a narrativa de pastor Gerôncio sobre os infortúnios do último ano: discussões, contendas, esvaziamento da igreja, falta de amor, secularismo, desgraças e pecados. Naquela sala fria e tensa, o conselho ouvia as explicações de pastor Gerôncio já imaginando a condenação vindoura por parte do experiente e respeitado pastor. Estavam aguardando a repreensão ao colega vinda de Adamastor. Quando Gerôncio termina sua fala, pastor Adamastor então retruca:
- Pastor Gerôncio, chama pra mim a irmã Norma por favor.
Os outros se ressaltam na cadeira, enquanto pastor Gerôncio responde:
- Pastor, irmã Norma faleceu logo assim que o senhor foi embora.
- Meu Deus, que pena, ninguém me informou dessa grande perda. Então me chama a irmã responsável pelo culto de oração.
Todos se entreolharam e desentendidos respondem:
- Não temos mais culto de oração desde o falecimento da irmã Norma.
Pastor Adamastor, então, tranquilamente apoia os cotovelos na altura dos joelhos e diz:
- Pois bem irmãos, eis ai o motivo de tanta desgraça. Sem oração não há como ficar de pé.
Levantou-se, orou pela igreja, cumprimentou todos e partiu.
"Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.
Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor;
E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.
Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. "Tiago 5:13-16
por Bruno Ramos