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sábado, 19 de janeiro de 2013

O falecimento de irmã Norma



Pastor Adamastor era um homem muito boa gente. A igreja, tradicional e centenária na cidade, era o destino de grande parte dos evangélicos do lugar, por ser a maior igreja "crente" da pacata cidadezinha. Todos ou quase todos os membros da igreja admiravam o amável Pastor Adamastor. Não se ouvia falar mal daquele homem já a oito anos na presidência da simpática congregação. Nos últimos anos, a igreja recebera muitos novos membros, muitas almas se batizando e a cidadezinha estava mesmo se convertendo, aceitando Jesus como Salvador. Muitos creditando essa revolução como o fruto do trabalho do obstinado pastor Adamastor, homem incansável em pregar o evangelho. 

Seus sermões, recheados de autoridade e convicção sempre falavam sobre o amor e exaltavam a honrosa missão de servir a Cristo. Ele sempre falava do amor de Jesus, o desprendimento das coisas materiais e o apreço pelas coisas do céu. Ele costuma dizer que seu versículo favorito era Colossenses capitulo três versículo dois: "pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra." Ele pregava sobre enfermidade, arranjava um jeitinho de citar o versículo, aconselhava algum irmãozinho no gabinete e lá estava ele pregando aquele versículo, no futebol, lá ia ele com seu lema de bolso...o jeito simples e amoroso de levar a vida daquele pastor conquistava cada vez mais aquele povo.

Como toda igreja tradicional que se preze, a igreja tinha seu "conselho deliberativo". Uma comissão formada pelos irmãos obreiros da igreja que decidiam sobre toda a "papelada". Tinha o pastor Gerôncio vice-presidente, irmão Cláudio tesoureiro, irmã Veruska vice-tesoureira, irmã Jacobina, secretária, pastor Pedro Henrique pastor de música, além dos obreiros mais anciãos da igreja, Seu Pitágoras, Seu Jorgino e Dona Efigênia esposa de Seu Jorgino, que sempre preparava a ceia do primeiro domingo do mês.

Mas sabe, pastor Adamastor não ligava muito pra isso não. Ele ficava sempre agitado quando começava mais uma reunião pra decidir sobre o bebedouro da cantina, o ventilador das salinhas da escola bíblica dominical, das apostilas dos juniores...ficava ele lá ouvindo tudo, com os pés agitados balançando pra cima e pra baixo, olhando desavergonhadamente para o relógio doido pra tudo acabar logo.

O que o pastor Adamastor gostava mesmo era de passar na sala das professoras da EBD, pegar as crianças no colo e fazer uma oração com elas, gostava de participar dos cultos de oração todas as terças-feira dirigidos pela irmã Norma, gostava de chamar o pastor Pedro Henrique para fazer um louvor com os jovens nos sábados a noite, gostava de marcar visitas na casa dos novos convertidos com o irmão Pitágoras nos dias de sexta-feira.

Um belo domingo de agosto a igreja teve que se reunir em assembléia para decidir sobre a partida do pastor Adamastor. A igreja deveria então respeitar o rodízio dos pastores recomendado pela convenção nacional a qual estava afiliada. Foi um dia de muita tristeza naquela igreja. Aquele pastor tão amado, precursor de uma grande revolução no seio daquela igreja agora iria partir. Um grande pesar e comoção entre os irmãos. Mas tinha que ser assim. Agora a igreja seguiria sem o pastor querido. Pastor Gerôncio assumiria interinamente. Houve um discurso. Houve uma despedida. Pastor Adamastor então já não era mais o presidente da igreja. Foi embora pastorear um igrejão de São Paulo.

Então a igreja foi seguindo o seu curso natural, sob o pastoreio de Gerôncio. Tudo ia bem a não ser o sentimento de perda de um grande líder. Três meses depois da ida de Adamastor, irmã Norma faleceu. Fizeram as cerimônias fúnebres. Enterraram a irmã num dia de terça-feira. Poucos familiares, pouquíssimos irmãos da igreja. Junto ao túmulo de irmã Norma também fora sepultado os cultos de oração de terça-feira, que só haviam sobrevivido ao tempo pela dedicação daquela irmã. 

Para afastar o clima "borocochô" do povo desde a partida do seu antecessor, no domingo seguinte o pastor Gerôncio decidiu tomar uma atitude ousada: convidou um artista gospel desses bem famosos e caros para cantar no culto da noite. O homem veio lá do Rio de Janeiro para aquela cidadezinha pacata, algo revolucionário na região. Primeiro chegou o ônibus carregado de músicos, cheio de equipamentos modernos, instrumentos e parafernalhas. O cantor chegou na hora do culto, até um pouco atrasado porque o vôo atrasou do aeroporto Tom Jobim devido a um contratempo na autorização de decolagem do jatinho particular do famoso cantor disco de platina.

Foi um alvoroço na igreja! Veio caravana das cidades vizinhas, ônibus entupindo a rua central da cidade, o prefeito foi no culto, a câmara de vereadores inteirinha, os três donos de supermercados, o juiz, o delegado e o médico do posto de saúde. Todas as personalidades se postaram na porta do camarim para uma foto para o jornal da cidade. Iria acontecer uma tarde de autógrafos com venda de cds, mas o atraso na viagem inviabilizou o negócio.

O espetáculo foi de casa cheia. Muita euforia durante a apresentação do cantor. Pela primeira vez em muitos anos não houve apelo no culto de domingo a noite. A festa foi um sucesso de público. Muita gente saiu dali satisfeita montada em seus ônibus de excursão. Menos o conselho deliberativo da igreja, e uma boa parte da membresia. Os irmãos do conselho se escandalizaram com essa atitude unilateral do pastor Gerôncio, que não consultou a igreja e desfalcou o caixa da igreja em mais de oitenta mil reais para arcar com os custos da super-produção. Como se não bastasse, quebraram as portas dos banheiros, colaram chicletes nos bancos, deixaram o pátio com guimbas de cigarro, estragaram o bebedouro novinho comprado na assembléia anterior...foi um desastre.

Daquele dia em diante, começou o racha na igreja. Parte da igreja queria mais famosos no pedaço, outra parte estava insatisfeita com tanta ousadia junto. Descobriram que irmão Cláudio tesoureiro faturou dez mil com a jogada do artista, por isso comprou um carro novo. Abriu uma boate na cidade, e os jovens  da igreja começaram a frequentar as festas, já que não acontecia mais os louvores de sábado a noite com pastor Pedro Henrique, que aliás, foi pego em adultério com irmã Berenice professora da EBD. Seu Pitágoras também morreu, e o filho dele recém convertido na época do pastor Adamastor, voltou ao vício do álcool e num inesperado dia atirou na sua esposa na porta da igreja, numa noite de culto, cheio de membros chegando para mais uma reunião. O número de batismos continuou caindo até chegar a zero. A frequência nos cultos também caiu. Se passado um ano, nada do legado deixado por pastor Adamastor estava de pé. A igreja estava em frangalhos.

Foi ai então que numa medida desesperada, alguns líderes daquela igreja resolveram telefonar para o pastor Adamastor e solicitar desesperadamente a visita dele na cidade. Só poderia ser isso: depois da partida do pastor Adamastor tudo passou a dar errado. O amável Adamastor ao receber as notícias trágicas de sua igreja de oito anos, pega suas malas e parte para ver de perto a situação. Chegando na cidade num sábado de manhã Adamastor entra na sala de reunião da igreja e defronte ao conselho deliberativo, ouve a narrativa de pastor Gerôncio sobre os infortúnios do último ano: discussões, contendas, esvaziamento da igreja, falta de amor, secularismo, desgraças e pecados. Naquela sala fria e tensa, o conselho ouvia as explicações de pastor Gerôncio já imaginando a condenação vindoura por parte do experiente e respeitado pastor. Estavam aguardando a repreensão ao colega vinda de Adamastor. Quando Gerôncio termina sua fala, pastor Adamastor então retruca:

- Pastor Gerôncio, chama pra mim a irmã Norma por favor.

Os outros se ressaltam na cadeira, enquanto pastor Gerôncio responde:

- Pastor, irmã Norma faleceu logo assim que o senhor foi embora.

- Meu Deus, que pena, ninguém me informou dessa grande perda. Então me chama a irmã responsável pelo culto de oração.

Todos se entreolharam e desentendidos respondem:

- Não temos mais culto de oração desde o falecimento da irmã Norma.

Pastor Adamastor, então, tranquilamente apoia os cotovelos na altura dos joelhos e diz:

- Pois bem irmãos, eis ai o motivo de tanta desgraça. Sem oração não há como ficar de pé.

Levantou-se, orou  pela igreja, cumprimentou todos e partiu.

"Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.

Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor;

E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.

Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. "Tiago 5:13-16

por Bruno Ramos
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Felicidade se faz com música

Olá a todos!

Enfim, resolvi de vez expor minhas escritas. Sempre quis escrever, apresentar um pouco as idéias que estão sempre enclausuradas na minha mente, sem ter como escapar. Espero que gostem de tudo o que eu carinhosamente estou apresentando ai. E, se por um caso, precisares de uma banda pra tocar no seu casamento, na sua festa, no seu evento...estamos ai, fácil falar comigo. Abraços.

Abraço a todos.

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